O INFANTE
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

João Medeiros. A Hora de Pessoa. 2022.

Columbano Bordalo Pinheiro. Camões e as Tágides. 1894.

Adaptação de uma imagem em "Titans".

José de Almada Negreiros, «Retrato de Fernando Pessoa» (pormenor), 1964. Inv. 64P66

FIM