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Geopolítica e Política

Lusa - Lusística - Mundial

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Portugal, 7 de Setembro de 2023

Se o Portugal dos Pequenitos não existisse teria de ser inventado

08.09.23 | Duarte Pacheco Pereira

Portugal dos Pequenitos

Uma Aventura em Coimbra à Descoberta do Portugal dos Pequenitos

 

Apresentação da minha não-candidatura à Presidência da República


Como na Covid, isto é assunto altamente contagioso: dias depois do primeiro caso, começam a disparar outros em volta. Há surtos de candidatos, como quem diz: “se ele pode, porque é que eu não posso?”

Por Alexandre Borges no Observador a 07 de Setembro de 2023, às 00:19 • Tem comentários

Caros concidadãos, venho por este meio anunciar, formalmente, que não serei candidato às próximas eleições presidenciais em Portugal. Bem sei que é uma extravagância, bem sei que estou sozinho, mas um homem tem de seguir firme as suas convicções. Mesmo enfrentando a incompreensão dos amigos e da família. Arriscando o isolamento e o estigma social. Ouvir o chamamento dentro dele, ainda que essa voz lhe diga: não faças nada, não mexas uma palha, deixa-te estar quietinho que assim é que estás bem.

Ao dia de hoje, é candidato a candidato o presidente da assembleia, o governador do banco, o antigo líder da oposição, o chefe do Estado-Maior do ramo, o comentador ex-ministro, o outro comentador ex-ministro, a comentadora ex-coisas várias, até o primeiro-ministro e um ex-primeiro-ministro por tempo record. Isto só entre os partidos do anteriormente-chamado-arco-da-governação, que, por norma, não apresentariam mais do que dois candidatos, um mais à esquerda, outro mais à direita. Faltam todos os outros que ainda vão aparecer: os dos partidos pequenos, os dos mais pequenos ainda, os sem partido, os contra os partidos, os de protesto, os de sempre, os que vão a todas, os que vão por piada, e a Cristina Ferreira, se ninguém a agarrar.

A situação é tal que, a três anos da eleição e com tantos actos eleitorais e dores de cabeça ainda pelo meio, deveriam os organismos responsáveis passar a comunicar um boletim diário de casos de candidatura, a fim de uma pessoa se precaver, ou isto vai chegar a 2026 e teremos um boletim de voto com mais páginas do que Os Maias. Porque, à evidência, como na Covid, isto é assunto altamente contagioso: dias depois do primeiro caso, começam a disparar outros em volta. Há surtos de candidatos, como quem diz: “se ele pode, porque é que eu não posso?” Começa dentro dos partidos, espalha-se pelos órgãos de soberania, e vai por aí afora, até começar a apanhar as pessoas nos bairros, nos transportes, nos lares. (“Senhor Armindo, está na hora de mudar a algália!” “Não posso que agora estou a preparar a visita à Feira de Agricultura do Samouco!”)

É um exemplo notável de entusiasmo cívico, tanto mais quando estamos habituados a ouvir dizer que as pessoas estão cada vez mais desinteressadas da política. E, afinal, ei-las dispostas a empenhar, às vezes, a vida que lhes resta, em serem as sucessoras de Marcelo.

Pois eu, cidadão português, maior de 35 anos e sem cadastro comparável a alguns dos proto-potenciais candidatos a candidatos, declaro aqui, pelos factos acima expostos, que desejo continuar a ser apenas um eleitor como os outros. Porque um país precisa de pelo menos um que não vote em si mesmo, nem que seja para desempatar a brincadeira.

Portugueses, vamos mudar Portugal não nos candidatando a coisa nenhuma, antes nos preocupando em fazer aquilo que nos é pedido onde estamos, aqui e agora. Vamos mudar Portugal exercendo as funções que nos foram confiadas, em vez de as tentar usar como trampolim para outra coisa qualquer, sobretudo nos casos em que chegámos aonde chegámos mais pela afinidade partidária do que pelas nossas habilitações. Vamos mudar Portugal sendo gratos à inacreditável sorte que nos calhou, quando, noutro sítio ou noutro tempo, poderíamos não ter passado de uns digníssimos funcionários públicos, a trabalhar numa secretária de canto num serviço sobrelotado, a contar os anos para a reforma. Vamos mudar Portugal não olhando para 2026, mas para 7 de Setembro de 2023, ou para 7 de Setembro de 2050. Vamos mudar Portugal dizendo e fazendo aquilo que realmente estamos a dizer e a fazer, e não o que dizemos e fazemos nas entrelinhas, por termos uma agenda escondida debaixo de cada palavra e cada gesto tacticamente pensados para não comprometer a jogada que pretendemos fazer lá à frente.

Portugueses, iniciemos aqui uma vaga de fundo pela normalidade. Pelo direito a não vivermos acima nem abaixo das nossas possibilidades – e muito menos das nossas habilidades. Pela modesta ambição de não sacrificar um país ao nosso ego.

Eis aqui a lista das promessas eleitorais da nossa não-candidatura: não diremos uma coisa e faremos outra, não daremos lições de moral por tudo e por nada, não pretenderemos ser o novo Marcelo, nem o anti-Marcelo. Não comprometeremos a regulação da banca, nem o prestígio das Forças Armadas, nem a vida democrática do parlamento, nem a confiança dos portugueses que nos seguem pelos media, em função das nossas ambições pessoais. Não seremos melhores, nem piores, nem sequer iguais aos outros; seremos simplesmente iguais a nós próprios, o que pode parecer um orgulho grandiloquente, mas, na verdade, não é grande coisa.

Digo-vos aqui, nesta hora solene e à sombra enorme dos nossos antepassados: não serei o Presidente de todos os Portugueses. Mas sou e continuarei a ser o português de todos os Presidentes (que remédio).

Portugueses, à hora a que vos escrevo, pode ainda não ter acabado o jogo do Porto, a Kikas pode ter recebido do IAPMEI mais algum prémio PME Líder, o primeiro-ministro terá talvez dirigido agora um pedido a Nossa Senhora para resolver o problema da habitação ou à Re/Max que faça lá um jeitinho. Sucedem-se os fenómenos climáticos extremos e a malta que foi ao deserto do Burning Man celebrar a transitoriedade da vida acabou debaixo de uma tempestade e atolada na lama. O país e o mundo enfrentam desafios excepcionais que exigem líderes excepcionais. E eu não sou excepcional. A maioria de nós, em princípio e por definição, não é excepcional. Façamos aquilo que sabemos fazer, nos casos em que já descobrimos o que é. E deixemos os outros 10 milhões de candidatos a uma vida boa, normal, justa, com casa, trabalho, remuneração e reforma condignos, em paz.

 

 

 

 

 

 

 

FIM

 

Os colapsos começam devagarinho…

05.09.23 | Duarte Pacheco Pereira

2023-09-05 09.53.19.jpgUm enorme penhasco desaba numa praia de San Diego

Estava lá 5 minutos antes de começar. Encontrei algumas pessoas que pareciam observadores de pássaros. Não tinha certeza se era apenas um gotejamento, ou se iria parar. E, se achou que eu fui estúpido por ficar em frente dele… Uma das coisas mais fascinantes foi esse fulano sentado nas rochas cerca de 75 jardas a sul (à direita). Enquanto o penhasco não estava caindo naquela direcção, todos gritavam para ele se afastar do penhasco. Quando comecei a filmar ele ainda lá estava, fui olhando para a direita para ver se ele se tinha mexido. Felizmente que se mexeu, e alguns minutos depois o sítio onde ele estava ficou coberto por 6 pés de pedras.
Vi-o à saída, contei-lhe o que vi e disse-lhe que era o homem mais sortudo da praia. 🙂 Tenho só mais um vídeo, mas nada de tão emocionante, quase parou quando terminei esse clipe.

Outro vídeo do mesmo colapso

 

Como os colapsos sociais têm uma escala de tempo de décadas, anos, dias, não de minutos, segundos, fracções de segundo, a maioria das pessoas não se costuma aperceber de que a sua sociedade está colapsando senão quando o fenómeno atinge um paroxismo.

 

 

 

 

 

 

 

FIM

 

OTAN+UE+Etc vs. Rússia: Ponto da situação

04.09.23 | Duarte Pacheco Pereira

Vladimir Putin é cinturão negro de judo.jpg

Vladimir Putin é cinturão negro de judo

 

A ideia de manobra de quem manda na OTAN e na UE era usar a Ucrânia para provocar uma mudança de regime na Rússia.

Não funcionou.

A ideia de manobra de quem manda na Rússia é usar o fortíssimo empenhamento da OTAN e da UE na Ucrânia para provocar mudanças de regime nos estados da OTAN e da UE e, também, nas suas colónias, neo-colónias, protectorados e aliados.

Veremos se funcionará.

 

 

 

 

 

 

 

FIM

 

Italáfrica?

02.09.23 | Álvaro Aragão Athayde

Eni logo

 

Interessante.

A Françafrique a colapsar, a Itália a retomar o seu sonho imperial com a benção dos EUA por Ursula interposta e Portugal a dormir a sesta.

Muito interessante mesmo!

 

Meloni, a africana


Não vi grandes referências, entre nós, a este Projecto, o que não surpreende, uma vez que vem de uma criatura intrinsecamente perversa da qual não pode vir nada de bom.

Jaime Nogueira Pinto • Observador • 02 de Setembro de 2023, às 00:20


Há uma velha lei da economia e da demografia que diz que as pessoas, quando não têm os recursos ao alcance, vão atrás deles. A África, aqui mesmo a sul da Europa, com o Mediterrâneo pelo meio, passou este ano os 1.500 milhões de habitantes e a sua população vai continuar a crescer a largo ritmo; e os africanos, carentes de recursos nos seus países, vão recorrer à emigração para sobreviver ou para procurar uma vida melhor.

Considerações éticas e políticas à parte, e por tudo o que está para trás e pode estar para a frente, ajudar a criar nesses países infraestruturas, recursos sanitários e sociais, condições de produção agrícola e industrial que fixem as populações para evitar vagas descontroladas de migrantes parece ser o mais inteligente – mais inteligente, mais humano e mais civilizado.

O Plano Mattei

É essa a ideia da Presidente do Conselho de Ministros de Itália, Georgia Meloni, que nos finais do mês de Julho anunciou, em Roma, um grande Plano de Investimentos para o desenvolvimento dos países do continente africano.

Não vi grandes referência entre nós a este Projecto, o que não surpreende, uma vez que chefe do Governo italiano é “fascista”, “populista” e de “ultra-direita” e, logo, uma criatura intrinsecamente perversa da qual não pode vir nada de bom. Entretanto, o projecto tem a bênção da Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres; e vai ao encontro do repto do Papa Francisco de “assegurar a todos o direito de não emigrar”.

O que me pareceu interessante foi, desde logo, o nome dado ao Plano, “Plano Mattei”.

Enrico Mattei foi um democrata-cristão, dirigente da resistência antifascista e fundador, em 1953, da ENI (Ente Nazionale Idrocarburi). A indústria petrolífera começara em Itália com a AGIP – Azienda Generale Italiana Petroli –, uma companhia pública fundada em 1926, em pleno vinténio fascista. Em 1945 Mattei foi encarregado de liquidar a AGIP e de proceder à sua privatização.

Mas Mattei tinha outras ideias para a companhia e fundou a ENI em 1953 como empresa nacional de petróleos: era uma empresa pública, tendo como símbolo o famoso cão negro de seis patas que lança uma língua de fogo encarnada. Com as boas relações pessoais e políticas de Mattei no Médio Oriente e na África do Norte a ENI tornou-se um importante player no mercado internacional petrolífero; mas em Outubro de 1962 o avião privado de Mattei explodiu e despenhou-se. Anos depois – dez, exactamente –, o realizador Francesco Rossi fez um filme, Il Caso Mattei, com Gian Maria Volontè no papel de Mattei, em que a morte do patrão da ENI aparecia ligada a interesses rivais, possivelmente das “Seven Sisters” americanas.

Mattei tinha ligações à Argélia independente, tendo ajudado a Front National de Libération na luta contra a França: era um homem que criara muitos e poderosos inimigos.

Ao escolher o fundador da ENI como “patrono” do plano, Meloni mostra não ter preconceitos ideológicos na hora de tratar dos interesses do Estado. A estratégia do projecto assenta na ENI, uma das maiores multinacionais mundiais de energia, hoje fortemente implantada em África, com uma vasta rede de empreendimentos de oil and gas, do Norte magrebino – Argélia, Tunísia, Líbia – à África Subsariana, incluindo Angola e Moçambique. O principal objectivo é instalar em África circuitos de produção agroalimentar e indústrias transformadoras que ajudem a fixar as populações, e pensar e planear infraestruturas internas de transporte que sirvam os portos do Atlântico e do Índico, por onde passará o comércio do continente.

Além disso, o Plano Mattei, em estreita colaboração com os governos europeus e africanos, prevê meios de controlo para reprimir o tráfico de emigrantes ilegais e as organizações criminosas que se ocupam dele.

A rivalidade Paris-Roma

Mas nem todos os países europeus veem com bons olhos este novo empenho italiano em África. É o caso de França, que se sentiu melindrada por Roma na sua aliança preferencial com a Tunísia quando Meloni levou a Tunis Ursula von der Leyen e o primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, para assinarem, em nome da União Europeia, com o Presidente Kaïs Saïed um acordo de cooperação estratégico. O mesmo sucede com as entradas italianas na Argélia e em Marrocos, tanto mais numa altura em que a cooperação França-África atravessa momentos difíceis – com os golpes militares no Niger, no Burkina Faso e agora no Gabão. A isto acrescentem-se as entradas da ENI italiana, rival da TOTAL francesa no oil and gas.

Tudo isto decorre no quadro geral um tanto ou quanto frenético da substituição, na Europa, do petróleo e do gás russos. Foi por causa disso que, numa primeira fase, Meloni esteve na Argélia e na Líbia (com certeza recordando também a herança política e geopolítica de Mattei). Ora na Líbia, que está dividida e em guerra civil, italianos e franceses têm opções e amigos diferentes: a Itália apoia o Governo de Unidade Nacional do primeiro-ministro Abdul Hamid Dbeibah, a França apoia os seus inimigos.

A Líbia é o quarto produtor de petróleo da África, depois da Nigéria, de Angola e da Argélia, mas é possuidora de grandes reservas de crude. A Itália é o seu primeiro parceiro comercial e, em Janeiro passado, Meloni esteve em Tripoli, onde a ENI assinou projectos no valor de 8 mil milhões de Euros. O Governo de Dbeibah é reconhecido pela ONU e apoiado pela Itália, pela Alemanha, pelo Reino Unido, pela Turquia e pelo Qatar. O outro, o governo rival, liderado nominalmente por Fathi Bashagha, está baseado em Sirte, quartel-general do general Haftar, e é apoiado pela Rússia, pela Arábia Saudita, pelo Bahrein, pelo Egipto e… pela França.

Esta fractura entre membros da União Europeia e da NATO é mais um sinal da multipolaridade da nova ordem do mundo, uma ordem que deixou de ser a ordem internacional liberal, mas que se encontra, por agora, num interregno, com alguns espaços de caos. Um caos que só uma estratégia de empenhamento sério, económico-social, do mundo desenvolvido pode ajudar a superar. E para bem de todos.

 

 

 

 

 

 

 

FIM

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